“Ao
som da sabedoria caiçara“O único rabequeiro de toda região é de Ubatuba.
Autodidata, o caiçara da praia de Ubatumirim aprendeu apenas no olhar a
confeccionar as mais belas rabecas que os olhos já viram. O instrumento
de um tronco só já está começando a ser valorizado como objeto de arte
pela população que pouco tem contato com as danças tradicionais como a
Folia de Reis. E isto só é possível porque existe as mãos... do sr.
Ricardo Nunes Pereira”
Ricardo Nunes Pereira, 69, é filho das terras de Ubatumirim, região
norte de Ubatuba. Toda sua família sempre foi daquela localidade: seu
bisavô Cabral foi o primeiro proprietário de todas aquelas terras. Com o
passar do tempo, as coisas mudaram e hoje a dificuldade econômica reina
no lugar. Sua mãe, falecida há dois anos com seus 105 anos, nunca
conheceu outro bairro ou praia. Seo Ricardo tem com Dª Francelina Maria
Pereira nove filhos e este é um dos principais motivos que tem que
trabalhar, e para seu sustento ele já fez e faz um pouco de tudo, pesca,
limpa roça, vende ostras na praia de Enseada e Almada, faz artesanato de
madeira e taquara e dá aula (recentemente) do oficio que mais se orgulha
e traz experiência de toda uma vida: a arte de fazer rabecas. Este
instrumento é uma espécie de violino de som fanhoso. A diferença do
mesmo para o instrumento industrializado é que não tem nenhuma
durabilidade e o som não é tão perfeito. Seo Ricardo escolhe
carinhosamente a madeira que sua experiência lhe permite e afirma que as
melhores são a guairana e o cedro e as esculpe cuidadosamente,
trabalhando primeiramente sua forma exterior e depois interior. Sua
rabeca tem uma durabilidade
infinita, ele as afina e pronto: já está pronta para o próximo
rabequeiro, o admirador do instrumento.
Uma rabeca para ficar pronta se for dedicar-se quase todo o tempo neste
oficio demora cerca de trinta dias. Seo Ricardo diz que aprendeu apenas
olhando a Folia na roça. “Quando o violinista ia andando, saía de uma
casa e entrava na outra, eu vinha olhando na rabeca dele. Aí, ele ia
embora e eu entrava no bosque, cortava uma madeira e fazia uma. Com dez
anos de idade eu já comecei a fazer rabeca; ninguém ensinou, eu olhava o
violinista da folia e recortava a madeira e fazia”, diz ele.
Suas rabecas já foram até para o exterior (França e Portugal) adquiridas
como obras de arte. Ele é o único rabequeiro que se tem notícias e agora
está ensinando a arte para as crianças da fundação “O Menino e o Mar” e
adultos na Fundart. Ele diz que quando é convidado a estar nas danças
folclóricas como a Xiba, São Gonçalo e Folia de Reis sempre participa
tocando uma de suas rabecas, mas tocar não é seu forte.
Para conhecer seo Ricardo e sua arte ou encomendar um dos seus
artesanatos, pode procurá-lo na rua Altídia, 230 - Jd Carolina, ou em
uma das duas Fundações, nas quais ele dá aula. |